Em julho de 2025, o governo de Donald Trump anunciou tarifas de 50% sobre todas as importações brasileiras aos EUA, marcando o ápice de uma escalada geopolítica sem paralelos na relação bilateral. Ao contrário das justificativas econômicas usuais, a medida foi explicitamente vinculada ao julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro, aliado político de Trump, acusado de conspiração golpista no Brasil. Este artigo examina as origens, impactos e implicações dessa crise.
Em carta ao presidente Lula, Trump classificou o processo contra Bolsonaro como uma “caça às bruxas” e “vergonha internacional”, exigindo seu fim imediato. A linguagem ecoava suas críticas aos próprios processos judiciais nos EUA. Apenas esqueceu de afirmar que ninguém foi condenado ainda.
A família Bolsonaro, especialmente o senador Flávio e o auto exilado deputado Eduardo, conspiraram em Washington por intervenção. A resposta de Trump, porém, foi considerada “megalomaníaca” por analistas e contraproducente, pois associava ideologia e suas preferencias a um jogo intrincado de comércio internacional. Trump já usara tarifas para forçar mudanças políticas, como as ameaças a outros parceiros comercias, por exemplo à Colômbia para aceitar deportados. Com o Brasil, porém, a tática atingiu novo patamar de confronto.
A justificativa econômica de Trump colide com dados concretos: Os EUA têm superávit com o Brasil. Em 2024, os EUA exportaram US$ 49,7 bilhões ao Brasil e importaram US$ 42,3 bi, gerando superávit de US$ 7,4 bi. Isso são dados reais e não retirados de um contexto de uma bolha ideológica. Daí que alguns setores brasileiros se encontram ameaçados. Aqui se pode mencionar dois produtos brasileiros, o café que fornece grãos que satisfazem 1/3 do consumo do Tio Sam, esse aumento tarifário, pode ocasionar uma escassez e uma elevação dos preços. Acredito que aqui deva existir uma negociação, como também deva existir uma negociação para o suco de laranja, que o Brasil exporta 50% do mercado e nos EUA a produção foi perdida em 88% e não tem muita margem para tarifar, pois a vantagem comparativa do Brasil em termos de baixo custo de produção lhe coloca num patamar elevado de negociação. Ou compra ou não tem suco. Quanto ao aço semiacabado, tarifa com 50% pode colocar em risco a cadeia produtiva e até causar sua interrupção. Evidente que outros setores vão ser impactados, como o mercado exportador de frutas, onde a repactuação mercadológica não ocorre de imediato e podem ter perdas substanciais no curto prazo.
Por outro lado, Lula invocou a Lei de Reciprocidade Econômica, prometendo tarifas equivalentes. Setores como aviação (Embraer) e energia (Petrobras) sofreram queda imediata em ações. Aqui a mistura ideologia e geopolítica se encontram com danos para ambos os lados. O Brasil não tem cacife para sustentar uma reciprocidade, mas eu vejo como uma demarcação territorial até que se busque uma solução.
Enquanto isso produtores de pescado, manga e carne bovina suspenderam envios aos EUA, antecipando prejuízos. A estação da manga, que começaria em agosto, foi especialmente afetada. Mas cabe aqui lembrar que existe o armazenamento congelado destes itens, e, portanto, um ganho de tempo. Não se pode criar a imagem de manga, peixe e carne bovina exposto numa CEASA. São produtos que passam por processos sofisticados de armazenagem. Sim, isso implica em custos elevados, quem viver verá.
A medida do Trump acelera o alinhamento com China, maior parceiro comercial do Brasil, a China enxerga a ação de Trump como oportunidade para expandir influência.
Como se não bastasse a fase de agressões, o sistema de pagamentos instantâneos brasileiro (PIX), foi alvo de investigação comercial dos EUA sob alegação de “vantagem desleal”, evidenciando o alcance do conflito. Uma mera tentativa de proteger as bandeiras de cartões de crédito da concorrência do PIX automático. Afinal, as pessoas vão preferir pagar suas contas e despesas mensais pelo Pix, retirando o ganho financeiro das administradoras de cartões.
A tarifa de 50% sobre o Brasil simboliza a weaponização do comércio internacional para fins políticos domésticos. Seus efeitos transcendem a relação bilateral, onde a rejeição quase unânime à interferência de Trump reforçou que ameaças econômicas podem fortalecer governos visados, não os subjugar. A desconfiança gerada dificultará acordos futuros, enquanto o BRICS surge como contrapeso estrutural.
Usar a geopolítica mundial para atender um projeto de poder, significa que o tiro saiu pela culatra.
Rosevaldo Ferreira é economista, professor da Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS), foi Diretor de Tributos da Prefeitura de Feira de Santana, Coordenador de Projetos do Sudic, Auditor Fiscal, Coordenador Regional da Agerba e Coordenador do Curso de Economia da UEFS.
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