Como indagava Brecht, que [rs] tempos são estes, em que temos de defender o obvio? Assim, eu fico perplexo com a amplificação do debate sobre a inflação de alimentos, sem tomar os devidos cuidados com a História e com o debate ideológico.
Primeiro que essa inflação de alimentos não é a maior dos últimos anos, no período de 2019 a 2022, esse índice foi acima de 20% anual. Mas saber usar a ferramenta estatística e jogar politicamente com a mesma num debate digital, isso tem sido feito com maestria na direita brasileira, essa questão da inflação dos alimentos prova isto. Em segundo lugar tem sido até engraçado, liberais tupiniquins que defendem arduamente a ausência do Estado na Economia e enaltecem a Mão Invisível que o mercado regula, estes estão bradando a omissão do governo, ora, mas não era para deixar que o mercado se auto regulasse e fosse para o equilíbrio? De outro lado temos os socialistas tupiniquins (devem ser primos), em vez de defenderem a intervenção estatal, coletivizando a produção, eles afirmam que tudo é decorrência de ausência de oferta e a demanda deve se ajustar, entendeu? Calma, este paragrafo foi somente um desabafo, estava travado na garganta.
Uma coisa é certa, do tempo que me entendo por gente, sempre tem produto aqui e outro ali mais caro. Se o café hoje está caro, o feijão e o tomate estão baratos. Amanha pode ser o inverso. A gente só compara preço da gasolina em nossa cidade quando o preço aqui está mais caro, nunca ouvi dizer que aqui está mais barato que lá. Assim procedem com os alimentos, a gente só fala do que está caro. Mas, fazer o que? assim caminha a humanidade.
Vamos lá por etapas, o café está caro? Sim está, por que? simples leitor(a), O Brasil, maior produtor mundial do grão teve uma perda enorme de produção nos últimos anos, Secas e geadas derrubaram os cafezais e quem conseguiu sobreviver teve de comprar insumos importados com dólar mais caro em 2024. Isso refletiu no preço, mas o pior aconteceu, o Vietnã, segundo produtor mundial, teve sua plantação devastas por furacões, e tudo no momento de crescimento da Procura mundial pelo café, Além de Brasil e EUA, chegou pesadão no mercado comprador a China, puxa véi, estes chineses se metem em comprar tudo. Aí eu me coloco do lado do produtor de café que sobreviveu as intempéries climáticas e cambiais. Bola na cara do gol, muita gente com a xícara na mão querendo café e eu tenho pouco. Velho, vou empurrar a faca e lucrar, dane-se você aí que está lendo e gosta de café, sim os caras aumentaram os preços e isto somente vai passar com a regularidade da cultura plantada, se não tivermos mais crises, ufa, tomara que não, eu adoro café.
E o ovo? Vamos falar de ovos. Gripe aviária nos EUA, cai a produção ianque, aqui no Brasil um calor infernal, galinhas estressadas (calma torcida do Vitória), tem de refrigerar os poleiros (nome feio), custos operacionais em alta e para completar, a enchente do ano passado no Rio Grande do Sul, elevou o preço do milho e, tititititi, ração mais cara, resultado, ovos mais caros até a semana santa, depois os ovos caem, opa, os preços dos ovos.
Ninguém está lembrando que em 2023 a inflação de alimentos foi de 1,03%, olha aí como ela contribuiu para reduzir a taxa média da inflação. Agora meu fi, agora minha fia, a natureza mandou a conta num momento que a área plantada está em desestimulo, e, portanto, seria natural a subida de preços, tudo bem que foi forte, mas bem distante de 2022 ainda. Temos um grave problema de oferta de alimentos e precisamos solucionar, as propostas estão na mesa, uma delas é o governo retomar a politica de estoques reguladores, fazendo intervenções pontuais em épocas de superprodução, garantindo um preço mínimo e entrar vendendo mais barato em época de ataques especulativos. Precisa fazer incentivos a agricultura familiar, ela que produz o que consumimos, e, para isto que os técnicos de planejamento rural saiam de sua zona de conforto e trabalhem numa estrutura agrária melhor para o pequeno produtor. Sim, estou falando em Reforma Agrária, mas antes que você me soque pedras pelas ventas, uma reforma amplamente debatida com a sociedade. Poderíamos começar com um referendo e bons debates de todos os lados. Mas o governo resolveu meter a colher e reduzir impostos sobre importação, ora, ora, para que isto? Mera pirotecnia, ou provocação a adversários? Vejam o exemplo da carne bovina, a atual alíquota a ser zerada é de 9%, mas o diabo veste Prada e mora nos detalhes. Nosso maior mercado, aquele que compramos carne é aqui do Mercosul, ou seja, não se cobra imposto de importação. Mas, o governo federal diz que precisa da ajuda dos estados, reduzindo ICMS, imagino a cabeça do Zema, zerando ICMS sobre o Café, isso afetará sua arrecadação. Redução de imposto tem de ser no curto prazo e pontual, caso contrário os custos operacionais continuam crescentes e no médio prazo absorvem o valor da redução tributária.
Rosevaldo Ferreira é economista, professor da Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS), foi Diretor de Tributos da Prefeitura de Feira de Santana, Coordenador de Projetos do Sudic, Auditor Fiscal, Coordenador Regional da Agerba e Coordenador do Curso de Economia da UEFS.
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