O prefeito de Serrinha (BA), Cyro Novais, anunciou nas redes sociais a implantação de um sistema de monitoramento por câmeras em diversos órgãos públicos do município. Segundo o gestor, as imagens poderão ser acompanhadas diretamente do gabinete da prefeitura. O objetivo, segundo ele, é garantir mais eficiência à gestão e acompanhar de perto o funcionamento da máquina pública.
“Hoje nós conseguimos monitorar o que está acontecendo na saúde, na educação e em todos os setores da administração. Tudo direto do gabinete”, afirmou o prefeito em vídeo divulgado nas redes sociais.
A iniciativa, no entanto, abre espaço para discussões sobre os limites do uso da tecnologia na administração pública e os possíveis impactos sobre o direito à privacidade de servidores e cidadãos.
Em entrevista ao Informaê, o integrante do Observatório de Segurança Pública da Bahia, Dudu Ribeiro, avaliou o projeto como um exemplo de mau uso do recurso público, disfarçado sob o discurso de eficiência.

“Essa é uma demonstração de um mau uso do recurso público sob a ideia de uma imaginada eficiência da gestão pública. O tipo de investimento para aprimorar e fortalecer os serviços públicos não passa pela hipervigilância. Não há qualquer dado científico que favoreça a adoção dessa política por qualquer prefeitura”, afirmou o especialista.
Segundo Dudu Ribeiro, o monitoramento em tempo real de servidores e setores administrativos não contribui para a melhoria dos serviços públicos, podendo inclusive gerar um ambiente de medo e perseguição dentro da gestão.
“Esse tipo de vigilância pode comprometer a entrega dos trabalhadores, a partir de uma lógica de medo. Além disso, ignora que os recursos gastos nesses equipamentos poderiam estar sendo aplicados em medidas efetivas que comprovadamente fortalecem as boas práticas na administração”, completou.
O especialista também destacou que a hipervigilância não garante mais segurança nem eficiência administrativa, e defendeu que o fortalecimento dos serviços públicos deve partir do diálogo e da participação dos servidores.
“Os investimentos que garantem segurança passam pela construção de ambientes de trabalho seguros e confortáveis, e não pelo aumento da capacidade de controle. É preciso que o Ministério Público acompanhe e avalie se há excessos nessas instalações. Utilizar o medo e a propaganda da vigilância como forma de gestão é, na verdade, uma demonstração de falta de projeto”, pontuou.
Para Dudu Ribeiro, muitas dessas políticas são importadas de soluções privadas, sem embasamento técnico ou comprovação de resultados. “Muitas dessas políticas vêm prontas de serviços privados que vendem soluções falsas. O fortalecimento dos serviços públicos passa pelo acolhimento dos agentes que executam o trabalho e pela escuta qualificada. O que vimos nesse caso, inclusive, foi uma peça de campanha publicitária para a prefeitura, sem nenhuma comprovação científica de que o investimento vultuoso nessa tecnologia trará resultado prático para a gestão pública”, criticou.
Até o momento, a administração municipal não detalhou quais locais estão sendo monitorados, quais critérios são usados para a captação das imagens e como os dados serão armazenados e protegidos.
Fotos: Reprodução


Sem comentários! Seja o primeiro.